
Jogos eletrônicos fazem parte da minha vida desde que tenho memórias, e com certeza muito antes de eu entender o que é gamificação. Muito antes desse conceito sequer existir. Eu aprendi a usar um joystick quando nem sabia ler e escrever, e não duvidaria de que talvez até mesmo antes de aprender a andar. Costumava assistir meu irmão e meu primo jogarem, ambos seis anos mais velhos do que eu, como se estivesse assistindo a um filme. E eu realmente encarava dessa forma.
Para mim, a maior diversão era assistir aos dois e criar histórias sobre os jogos, os quais eu não entendia absolutamente nada do enredo. Primeiro, obviamente, porque eu não sabia ler para entender as explicações. E mesmo se soubesse, naquela época era muito raro um jogo ter legendas em português, então todos traziam textos em inglês.
Eu viajava completamente. Lembro até hoje da história que criei para Resident Evil 4, que definitivamente não tinha nada a ver com o plot principal de zumbis. Na minha imaginação infantil, transformei o terror em um romance.
E fazia isso com tudo que caía nas minhas mãos, desde The Sims a Tony Hawk. Sim, mesmo um jogo de skate virava uma trama complexa, cheia de personagens, cenários e enredos. Pois é, eu sempre fui muito voltada ao storytelling. O que para mim era uma brincadeira na infância é hoje um mercado que só vem crescendo. Em apenas dez anos, a indústria de jogos no Brasil ficou sete vezes maior.
E sabe por que jogos fazem tanto sucesso, marcam memórias e conquistam uma das maiores audiências entre as mídias? Justamente porque eles te colocam como parte da narrativa.
Mesmo que no fim não importe de verdade o que você faz, que toda a história já venha pronta (ainda que em alguns jogos exista a prerrogativa de decisões que alteram o rumo do enredo), os jogos te colocam no controle. Literalmente. Você não é um mero espectador. Precisa tomar ações, e suceder nelas, para a trama avançar.
Essa é a magia para mim. É isso que diferencia os jogos de filmes, séries e livros. Esse papel de protagonista. Isso é algo que nenhuma outra mídia consegue proporcionar.
E sabe quem mais percebeu esse tom fantástico, e como ele poderia ser usado de forma estratégica no marketing digital? As marcas que você consome. E foi assim que surgiu o conceito que vai guiar todo este texto: o que é gamificação e por que essa estratégia, inspirada nas mecânicas dos jogos, pode transformar a forma como marcas se conectam com o público?
Aperta o play e vem conferir!
O que é gamificação? O jeito mais inteligente de transformar conteúdo em experiência
A ideia de aplicar lógicas de jogo em ambientes que não são, tecnicamente, jogos, vem justamente dessa percepção: o que engaja não é só o conteúdo, mas a forma como ele convida à ação. A gamificação começou como uma ferramenta para tornar tarefas repetitivas mais envolventes, como em programas de incentivo ou treinamentos internos. Mas evoluiu. E evoluiu MUITO.
Hoje, quando falamos sobre gamificação no marketing digital, estamos falando sobre uma mudança de lógica, onde o público não quer apenas consumir conteúdo, mas participar dele. E é nas redes sociais que isso ganha força: ali, o seguidor quer reagir, comentar, desbloquear, avançar. Ele quer jogar com a marca.
Empresas que entenderam isso transformaram seus perfis em verdadeiros sistemas de progressão. Estamos falando de campanhas que oferecem pequenas conquistas, desafios acessíveis, recompensas simbólicas e um senso claro de evolução. Porque quando o público sente que está caminhando com a marca, e não apenas assistindo de longe, ele volta. E volta porque quer, não porque foi forçado.
Essa lógica pode ser aplicada em todos os pontos de contato: feed, stories, e-mail marketing, páginas de produto, automações, landing pages. Onde houver ação do público, pode haver gamificação. E quando bem aplicada, ela não só aumenta o engajamento, ela muda completamente a forma como sua marca é percebida.
Mas qual a diferença entre um post normal e um post gamificado?
Essa é uma confusão que eu tive que entender, então compreendo que você tenha dúvidas. Vamos lá, vou te explicar.
Na prática, a diferença está na lógica por trás da ação.
Imagine que você está rolando o feed e vê um carrossel que diz:
“7 dicas para melhorar sua rotina”
Você lê, acha interessante, talvez até salve para ver depois. Mas quando o post termina… a experiência também termina. Você recebeu a informação, achou útil, mas não existe um incentivo claro para continuar voltando. É um conteúdo de consumo passivo.
Você entra. Consome. Sai. E o ciclo acaba ali.
Agora, vamos imaginar o mesmo conteúdo com uma lógica diferente:
“Desafio dos 7 dias: melhore sua rotina com uma dica por dia”
Aqui, cada post representa uma fase. Cada fase tem um objetivo. Você acompanha, interage, sente que está “avançando”. No final, quem completar os 7 dias desbloqueia um bônus: pode ser um conteúdo extra, um reconhecimento simbólico, um acesso temporário a algo exclusivo. Isso é uma estrutura gamificada.
Mas aí vem a dúvida: E se a pessoa só viu o post do dia 2? Ou chegou só no final? Ainda é gamificação? A resposta é sim, porque a lógica construída pela marca é gamificada, mesmo que o usuário entre no meio da jornada.
O que define se algo é gamificação?
É a estrutura, e não apenas a estética ou o comportamento individual.
Um conteúdo só pode ser considerado gamificado quando ele foi pensado com os elementos certos:
- Um caminho com começo, meio e fim
- Um sistema de progressão (níveis, etapas, desbloqueios…)
- Um estímulo à continuidade
- E alguma forma de recompensa, mesmo que simbólica
Então sim, um mesmo post pode parecer “normal” para quem chegou fora de contexto, mas continua sendo parte de uma jornada gamificada para quem acompanha desde o início. É como entrar no meio de um jogo: você pode até não entender tudo, mas o jogo ainda está acontecendo. Quando eu chegava no meio de uma fase de God of War para assistir meu irmão e meu primo jogarem, o jogo não se transformava magicamente em filme. Ele continuava sendo um jogo, mesmo que eu tivesse chegado na metade.
Precisa ter uma recompensa real para ser gamificação?
Essa é outra dúvida comum, e justa. Se o seguidor só visualiza o conteúdo final, ele vai receber a recompensa mesmo assim? Depende da mecânica definida pela marca.
Se ela construiu um sistema de desbloqueio real, com formulário, envio de respostas, participação ativa, então só quem seguiu todas as etapas recebe o que foi prometido. Isso exige mais estrutura, claro.
Mas nem toda recompensa precisa ser “entregável”. Muitas vezes, a própria experiência é a recompensa: a sensação de ter concluído um desafio, de ter participado de algo, de ter sido mencionado ou reconhecido publicamente. Isso também conta como gamificação.
Resumindo então:
Um post normal entrega conteúdo.
Um post gamificado convida para uma jornada.
Mesmo que só uma parte do público percorra toda essa jornada, a estrutura gamificada está lá. Isso que muda completamente a forma como o conteúdo é percebido e vivido.
E é aí que mora a diferença entre simplesmente informar e envolver.
Não é só um joguinho: por que a gamificação engaja tanto?
Se no tópico anterior a gente falou sobre a estrutura por trás da gamificação, aqui vale entender o porquê dessa estrutura funcionar tão bem.
Quando você transforma o conteúdo em uma jornada, com etapas, objetivos e recompensas, não está só deixando ele mais interessante. Está acionando gatilhos profundos que o cérebro reconhece instantaneamente: progresso, conquista, curiosidade, pertencimento. E é aí que a mágica acontece.
Parece só um carrossel bem feito. Mas, na verdade, o que está rolando é quase uma manipulação neural (do bem, claro). É dopamina sendo liberada a cada micro conquista, é a amígdala cerebral entrando em ação toda vez que o conteúdo provoca emoção, é o sistema límbico dizendo “só mais um postzinho e eu juro que paro”.
O nome disso é neuromarketing. Inclusive, esse é assunto para outro blogpost. Mas fica o aviso: o seu cérebro está mais envolvido com o conteúdo do que você imagina.
A gamificação funciona porque dá propósito à interação. Não é mais só sobre clicar, curtir ou comentar. É sobre fazer parte de algo, avançar, desbloquear, sentir que está construindo junto com a marca. O seguidor não só assiste. Ele joga. Mesmo que o “jogo” seja um quiz leve, uma trilha de conteúdo ou um desafio simbólico no feed.
E aí o engajamento deixa de ser um pedido explícito e vira uma resposta natural. A pessoa quer continuar porque aquilo faz sentido. Porque existe uma lógica, um ritmo, um sistema que recompensa o envolvimento, seja com um bônus visual, um desbloqueio ou a simples sensação de “completei essa fase”.
No marketing digital, isso é ouro. Porque seguidor engajado não é aquele que viu um post. É aquele que voltou para ver o próximo.
O que dizem os dados
De acordo com uma análise publicada na ScienceDirect, ações de gamificação no marketing digital aumentam a permanência do público em campanhas e melhoram significativamente a taxa de resposta quando há feedback rápido e sensação de progressão.
Já o relatório da Growth Engineering apontou que estratégias com estrutura gamificada podem elevar em até 300% as interações com conteúdos, especialmente em contextos sociais, como Instagram e TikTok.
O Mailchimp também reforça que campanhas que seguem lógicas de jogo têm maior propensão a gerar comportamento proativo: o público compartilha, retorna mais vezes e tende a se envolver com mais profundidade. Isso porque elementos como desafio, conquista e resposta imediata ativam áreas cerebrais ligadas à motivação e ao prazer, os mesmos gatilhos que fazem a gente querer tentar de novo quando perde por um segundo numa fase do jogo.
O ponto aqui não é só que a gamificação “engaja”. É que ela cria um ambiente onde participar faz sentido.
Engajamento e retenção – o ciclo que move a gamificação
Se tem uma coisa que os jogos ensinam desde o primeiro “aperte start”, é que engajar alguém não basta. Você precisa fazer essa pessoa continuar jogando. Se o jogo começa chato e tedioso, dificilmente você vai querer ir até o final.
É aí que a gamificação mostra sua força. Porque ela não depende só do impacto inicial de um post bonito ou de uma CTA chamativa. Ela cria uma lógica de permanência. Um ciclo. E esse ciclo é exatamente o que pode transformar um seguidor curioso em alguém que volta, interage, se envolve e começa a enxergar sua marca como mais do que só mais um perfil na timeline.
Esse é um dos principais benefícios da gamificação no marketing digital: manter a atenção do público sem parecer insistente. Funciona mais ou menos assim:
- A pessoa vê algo que desperta curiosidade (gatilho).
- Ela interage (ação).
- Recebe uma recompensa imediata. Pode ser uma resposta, um avanço visual, uma conquista simbólica (feedback).
- E essa pequena dose de reconhecimento gera a vontade de repetir (retorno).
Quando esse processo é bem desenhado, ele vira um loop positivo: quanto mais a pessoa participa, mais ela quer continuar participando. Esse padrão tem nome e base científica. O modelo Octalysis, criado por Yu-kai Chou. E é exatamente sobre ele que vamos falar no próximo tópico.
Octalysis: o mapa que transforma motivação em estratégia
Se tem uma coisa que a gamificação nos ensina, é que engajar não é só entreter: é motivar. E foi com esse pensamento que Yu-kai Chou desenvolveu o Octalysis, um framework que parece complexo à primeira vista, mas que na prática funciona como um GPS da motivação humana.
A lógica é simples: toda ação que a gente toma — ou deixa de tomar — tem um porquê. Um gatilho. Um impulso. O Octalysis organiza esses impulsos em 8 forças principais, chamadas de core drives. Esses drives explicam por que a gente volta para o joguinho, entra no desafio do TikTok, responde uma enquete no story ou insiste naquele carrossel da marca mesmo sabendo que ele vai até o slide 10.
Vem conhecer os 8 motores mapeados por Chou:
Significado Épico e Propósito: É quando o seguidor sente que está participando de algo maior do que ele. Pode ser uma causa, uma missão coletiva, um desafio com impacto. Quando você cria campanhas com propósito, como apoiar uma ONG, promover impacto ambiental ou incentivar o crescimento pessoal do público, esse motor entra em ação. Exemplo prático: uma marca de moda que convida os seguidores a participarem de uma campanha de doação de roupas com gamificação por níveis: quanto mais doações, mais metas coletivas são desbloqueadas.
Desenvolvimento e Realização: É a sensação de evolução. O público precisa perceber que está progredindo. Pode ser algo simples, como uma sequência de posts que se complementam, ou mais elaborado, como um sistema de badges simbólicas por participação. O que importa é a percepção de que ele está “subindo de nível”. A gente pode usar como exemplo o post que eu citei lá em cima, o “Desafio dos 7 dias”, onde a cada dia o seguidor aprende algo novo e, no final, desbloqueia um conteúdo bônus.
Empoderamento da Criatividade e Feedback: O seguidor tem liberdade de criar, customizar, dar sua cara, e, claro, receber retorno. Essa motivação aparece quando o público pode personalizar respostas, criar conteúdos próprios a partir de um template da marca, sugerir caminhos, e no final é ouvido. Por exemplo: uma campanha onde o seguidor monta seu próprio produto ou paleta e a marca responde ou compartilha os mais criativos.
Propriedade e Posse: Quando o usuário sente que algo é dele, mesmo que digital. Pode ser um avatar, uma figurinha, um certificado, um conteúdo desbloqueado só pra quem participou. Essa sensação de posse aprofunda o vínculo com a marca, como um infoproduto que entrega certificados personalizados conforme a interação do aluno com os conteúdos ou quizzes.
Influência Social e Pertencimento: É o desejo de se conectar, ser reconhecido, fazer parte de um grupo. Funciona com rankings públicos, menções, desafios coletivos, “top fãs da semana”, tudo que envolve comunidade, competição amigável ou cooperação. Um bom exemplo é um mural interativo com os nomes dos seguidores mais engajados do mês ou uma missão em dupla onde amigos precisam marcar um ao outro para cumprir a tarefa.
Escassez e Impaciência: Esse é o famoso “última chance”. A oferta vai acabar, o brinde é limitado, a ação é só até meia-noite. Quando o público percebe que não pode ter aquilo o tempo todo, ele valoriza mais. Mas cuidado: aqui a urgência precisa ser real, como uma sequência de stories com links que expiram, tipo “receitas que somem em 15 minutos”, com bônus exclusivo pra quem clicar no tempo certo.
Imprevisibilidade e Curiosidade: É o que faz a gente querer ver o próximo slide. Abrir o próximo e-mail. Voltar no dia seguinte. Esse core drive funciona com plot twists, pistas, recompensas misteriosas, ou simplesmente com conteúdos que provocam o “e agora?”. Tipo uma campanha com enigmas que vão sendo resolvidos em partes ou um feed estruturado com conteúdos fragmentados que só fazem sentido no fim.
Perda e Evasão: É o medo de perder algo. De ficar de fora. Não é sobre “ganhar”, é sobre não querer ser o único que não participou. Funciona muito bem com escassez combinada à pressão social, como uma ação onde quem não completa o desafio da semana perde o acesso à fase seguinte ou não entra num grupo VIP com os outros participantes.
E o Octalysis ainda vai além de simplesmente listar esses motivadores. Ele classifica cada um deles como:
- White Hat: motivadores positivos, que geram engajamento saudável e duradouro (como propósito, progresso e criatividade).
- Black Hat: motivadores mais urgentes e emocionais, que funcionam, mas exigem cuidado (como escassez e medo de perda).
A grande sacada aqui é saber equilibrar os dois. Se você usar só White Hat, o público pode achar legal, mas talvez não volte. Só Black Hat o público clica, mas depois se arrepende. Juntos, eles constroem uma experiência que atrai, prende e fideliza.
E o que isso tem a ver com redes sociais?
Bom, tudo.
Porque redes sociais são feitas de micro escolhas. Cada clique, cada interação, cada story assistido até o fim acontece por algum motivo. Quando você entende qual drive está por trás da ação que quer provocar, a construção do conteúdo deixa de ser um chute criativo e passa a ser uma estratégia com base comportamental.
- Quer que a pessoa volte todos os dias? Aposte na progressão visual e no hábito com propósito.
- Quer estimular compartilhamentos? Use pertencimento + reconhecimento social.
- Quer aumentar cliques em uma campanha pontual? Uma boa dose de escassez e urgência bem aplicada pode fazer maravilhas.
- Quer que o seguidor se sinta parte da criação? Traga liberdade criativa + feedback rápido.
O Octalysis mostra que a gamificação não é sobre estética, mas sim sobre emoção com lógica. Você pode até nunca ter ouvido falar dele, mas se já usou uma “série de posts numerada”, um “conteúdo desbloqueável”, um “ranking com menções” ou até uma “campanha com tempo limitado”, provavelmente já aplicou alguns desses drives sem saber.
E agora que você sabe… dá pra fazer com muito mais estratégia.
O que (não) é gamificação
Não é porque tem ranking que é gamificação.
Não é porque tem emoji de troféu que virou um jogo.
E, definitivamente, não é só porque você chamou um post de “desafio” que ele vai engajar como um.
A verdade é que muitas marcas tentam aplicar gamificação no marketing digital sem entender a lógica por trás, e o resultado é o que a gente vê com frequência por aí: postagens chamativas com promessa de diversão que, na prática, são só uma enquete mal posicionada ou um formulário disfarçado de joguinho.
A aparência pode até lembrar um jogo. Mas se a estrutura não existe, a mágica não acontece. A experiência gamificada de verdade, como já conversamos, exige lógica, contexto, estímulo, progressão, e, acima de tudo, intenção clara. Sem isso, o conteúdo até atrai clique, mas não segura ninguém.
Por isso, vale alinhar expectativas. Aqui vão algumas coisas que não são gamificação, mesmo que tenham um certo jeitinho de ser:
- Sorteio avulso: dar um prêmio em troca de um comentário aleatório pode até gerar tráfego momentâneo, mas não cria engajamento contínuo nem estimula progressão. Não há lógica de conquista, apenas uma transação rasa.
- Layout com estética de videogame: fontes pixeladas, botões retrô e planos de fundo 8-bit não transformam seu carrossel em conteúdo gamificado. Visual é só uma camada. Gamificação precisa de mecânica.
- Quizzes soltos sem lógica de avanço: um quiz pode ser divertido, mas se as respostas não levam a nenhum desbloqueio, transformação ou continuação, ele termina onde começou. É estático, não é evolutivo.
- Checklists desconexos: listar tarefas para o seguidor sem mostrar o impacto delas ou sem oferecer recompensa simbólica, nem que seja uma reação ou reconhecimento, é só uma to-do list com filtro colorido.
- Posts com a palavra “desafio” no título e nada mais: se não existe um objetivo claro, um caminho de progressão e uma recompensa (nem que seja emocional), chamar de desafio não basta.
A gamificação de verdade no marketing digital tem sistema. Tem lógica. Tem construção. Como vimos nos blocos anteriores, ela deve ser divertida, mas jamais superficial. E quando a estrutura não existe, o público percebe. Pior: a frustração causada por uma promessa não cumprida pode ser mais danosa do que o engajamento que nunca veio.
Se a gente fosse buscar um paralelo com jogos: gamificar sem pensar no processo é como lançar um game que só tem tela de início. Bonito por fora, mas que trava logo depois do “press start”. A expectativa é alta, mas a entrega decepciona. E quem costuma jogar sabe que não existe nada mais frustrante do que um jogo fechando sozinho.
O caminho certo? Entender que gamificar é criar uma jornada, com começo, meio e vontade de continuar. Mesmo que a recompensa final seja só um “ei, você chegou até aqui”.
Como saber se a gamificação está funcionando para a sua marca?
Não é porque o conteúdo ficou legal que ele está funcionando. E também não é porque o seguidor clicou uma vez que ele está engajado.
Gamificação no marketing digital não termina no “post do dia”. Ela constrói resultado ao longo do tempo. Mas como saber se a coisa está de fato dando certo?
O primeiro passo é entender que gamificar é desenhar um sistema, e todo sistema deve ser medido. Ou seja, se a sua campanha tem lógica de jogo, ela também precisa ter indicadores de sucesso claros.
Você está buscando o quê? Mais interação? Mais tempo de permanência? Aumento no número de salvamentos? Crescimento da comunidade? Cada métrica aponta para um tipo de impacto, e a sua estratégia gamificada precisa estar casada com o que você quer colher.
De acordo com o estudo da Adjust, os principais KPIs de campanhas com conteúdo gamificado são:
- Aumento do tempo médio de atenção,
- Crescimento nas interações por publicação (comentários, respostas, cliques),
- Retorno recorrente do mesmo público ao longo das etapas,
- Taxa de finalização de jornadas (como trilhas, quizzes ou desafios),
- E — talvez o mais valioso — volume de menções e compartilhamentos espontâneos.
Mas não basta olhar os números isoladamente. É preciso observar padrões.
Seu conteúdo virou hábito? O seguidor volta? Ele interage com mais profundidade ou só responde de forma superficial? Ele compartilha com um comentário próprio ou só reposta do jeito que veio? Essas nuances de comportamento dizem muito mais sobre o impacto real da sua experiência gamificada do que uma curtida aleatória.
E se os resultados não vierem logo de cara: calma. Talvez o desafio esteja difícil demais. Ou fácil demais. Talvez a recompensa esteja desconectada do esforço. Ou talvez só falte deixar mais claro qual é o próximo passo da jornada.
É aqui que entra o segredo: testar, ajustar e escutar.
A Brame recomenda aplicar testes A/B com variações de complexidade, narrativa e feedbacks visuais, para entender qual formato realmente motiva o público em cada etapa.
Já a Gamification Research Network reforça que quanto mais iterativo o processo, maior a chance de acerto, porque o que engaja hoje pode não ser o que engaja amanhã. E tudo bem. Gamificação também é adaptação.
Em resumo? Gamificar exige mais do que criatividade. Exige acompanhamento. A beleza da jornada está na construção, mas o sucesso dela está nos detalhes que você escolhe observar.
Porque, no fim das contas, o melhor jeito de saber se o público está engajado com a sua campanha gamificada é ver se ele escolheu continuar jogando.
Seu público merece mais do que marketing previsível
Vamos ser sinceros: sua audiência já está calejada das velhas campanhas. Sim, até os gatilhos clássicos, como o “última chance”, o “só restam 2 unidades” ou o “sabia que 90% das pessoas cometem esse erro…”. Eles podem funcionar, se bem adaptados e colocados no contexto certo. O problema é que foram usados tantas, mas tantas vezes, de formas tão parecidas, que a audiência cansou. Ela reconhece a fórmula. E ainda pior do que isso: ela aprendeu a evitá-la.
Vou fugir um pouco do tema aqui, mas vai fazer sentido no final, prometo.
Esses dias eu estava na praia, relaxando no mar, pensando sobre a construção deste blogpost que você está lendo. O som das ondas quebrando me colocou em um transe de ideias perfeito, sem qualquer influência de ruídos externos. E aí, no meio do fluxo de pensamentos, me veio uma pergunta: por que o telemarketing ainda existe se ninguém atende?
Existe um motivo, claro, (e eu quero trazê-lo em um blogpost futuro), mas reflita um pouco aqui comigo: nos últimos 5 anos, quantas chamadas de telemarketing você atendeu? Eu sei que a resposta para mim é zero. Quando vejo aquele “0303”, já corro apertar o botão vermelho do “recusar”.
Eu compartilhei esse pensamento com meu irmão e minha cunhada, e ela me trouxe uma reflexão interessante: estratégias agressivas como o telemarketing parecem com uma sequência de ondas em um mar agitado. Quando uma vem, você mal tem tempo de se recuperar antes de vir a próxima, e isso fica cansativo, doloroso até, com a água salgada entrando no olho, te arrastando. Você perde a vontade de estar ali e quer sair o mais rápido possível. É isso que seu seguidor faz quando você o bombardeia com ofertas e estratégias batidas: ele foge. Passa a querer te evitar, e isso é a última coisa que você quer que aconteça.
Hoje, o seguidor médio tem filtro. Ele ignora o anúncio genérico, fecha a aba do formulário frio, corre do gatilho que soa ensaiado demais. Não é que as pessoas não queiram comprar. Elas só não gostam de ser pressionadas, empurradas ou tratadas como se não soubessem o que querem.
Quando o conteúdo soa mais como um vendedor aflito do que como alguém que tem algo valioso a dizer, o cérebro entra em modo de defesa. E aí pronto, acabou. A mensagem se perde antes mesmo de ser lida, porque o seguidor já sabe o que o espera. Ele já sabe que a próxima onda vai ser incômoda, ao invés de relaxante, e vai fugir para evitá-la.
É aqui que a gamificação vira um respiro.
Ela não força. Ela convida. Ela não empurra o usuário para dentro do funil. Ela o coloca dentro de uma experiência em que avançar faz sentido. Onde o marketing vira diversão. No fim, ele nem percebe que está dentro, porque soa natural.
E o melhor? As possibilidades são infinitas. Gamificação não tem uma fórmula única, não existe resposta certa, nem uma forma de aplicar. Tudo pode funcionar, desde que você use a criatividade. Não precisa de um orçamento gigantesco ou de ideias mirabolantes. Exatamente como nos jogos.
Pense em qualquer tema, qualquer um mesmo. Eu te garanto que existe um jogo sobre isso.
Eu mesma sou completamente viciada em um chamado PowerWash Simulator. A premissa dele? Lavar coisas com uma mangueira de alta pressão. É só isso. Eu juro para você. Não tem combate, não tem um enredo estrategicamente elaborado, não tem personagem. É só você e uma lavadora.
Parece ridículo? Talvez. Mas é incrivelmente satisfatório. Eu coloco um vídeo de fundo ou minha playlist do Spotify e passo horas apenas limpando um cenário virtual. Porque o que prende não é a ação em si, é o sistema de progressão, a recompensa imediata, a sensação de avanço visível e o prazer de ver o resultado tomando forma.
Isso é gamificação. É pegar o simples, o cotidiano, o quase tedioso, e transformar em algo que o público quer continuar fazendo.
E quando a sua comunicação consegue fazer isso… aí o resto é bônus.
Conclusão
Com todos esses pontos, espero ter conseguido provar a você que gamificação não é só uma moda passageira ou uma estética bonitinha. É uma mudança de lógica. Uma nova forma de pensar a criação de conteúdo, onde o seguidor deixa de ser um número e passa a ser jogador, com direito a escolha, progresso, recompensa e, principalmente, vontade de continuar.
Nós vimos que gamificar é dar forma à experiência. É transformar cliques em caminhos, likes em evolução, comentários em conquistas. Tudo isso com base em comportamento humano, dados reais e uma pitada de criatividade estratégica.
Mas talvez você esteja se perguntando: tá, e como aplicar tudo isso no meu conteúdo de verdade?
Bom, meu caro leitor… quero te informar que esse jogo não termina aqui. Esse foi apenas o tutorial.
Porque agora que você entendeu o que é gamificação, chegou a hora de ver tudo isso em ação. No próximo blogpost, vamos mergulhar fundo em uma série de jogos que você provavelmente conhece para te mostrar, com exemplos claros e divertidos, como cada um deles pode inspirar sua estratégia de marketing digital.
Nós vamos falar de storytelling, de recompensa, de progressão, de desafio. Vamos mostrar como o Mario ensina a criar senso de avanço, como Pokémon nos ajuda a manter o engajamento por conquista, como Tetris ensina sobre simplicidade viciante e como até o caos de Among Us tem algo a dizer sobre engajamento coletivo.
E se ainda parecer muito complexo, calma. Você já deu o start, agora é só avançar até a fase final.
Então fique de olho nas redes da Farmer, porque na próxima etapa, a gente vai mostrar como aplicar tudo isso na prática, com uma seleção de referências que vão fazer você nunca mais olhar para um carrossel do mesmo jeito.
Aperte o play.
A gamificação continua…
E, se quiser já se preparar para o boss final, entre em contato com a gente e descubra como aplicar essa estratégia no seu negócio desde já!